Enfrentando uma crise oculta: menopausa e suicídio

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Setembro Amarelo é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio

Portanto, momento ideal para abordarmos um tema profundamente sensível e muitas vezes estigmatizado: a ligação entre a menopausa e o suicídio.

É essencial iniciar esta discussão reconhecendo a profunda dificuldade e desconforto que muitas vezes envolve as discussões sobre o suicídio. Parte desse desconforto decorre da crença equivocada de que trazer o assunto à tona pode incitar a ideia de suicídio em alguém ou torná-la mais real, mais próxima. Além disso, a vergonha em relação aos altos e baixos da saúde mental também pode desempenhar um papel crucial no desconforto em discutir este tema. Entretanto, na realidade, o oposto é verdadeiro. Ao reconhecer emoções difíceis, damo-nos a oportunidade de enfrentá-las, procurar apoio e tornar-nos mais resilientes.

Discutir a relação entre menopausa e suicídio é vital. Um estudo de 2009 com mulheres europeias descobriu que as mulheres na perimenopausa tinham sete vezes mais probabilidade de ter ideação suicida (pensar ou planejar suicídio) do que as mulheres que estavam no período pré ou pós-menopausa. No Brasil, de 2010 a 2019, ocorreram 23.929 suicídios femininos, o que equivale a aproximadamente 6,56 suicídios por dia e uma taxa de mortalidade geral de 2,72 mortes por 100.000 mulheres. As maiores taxas de mortalidade foram observadas em mulheres de 40 a 69 anos.

Essas estatísticas deixam claro quão urgente é discutir e tratar os primeiros sinais de depressão que, para algumas, pode acompanhar a perimenopausa. O que ocorre é que  muitas mulheres optam por ficar em silêncio sobre as mudanças vivenciadas e os desconfortos sentidos. Os tabus nos encorajam a permanecer quietas. Porém, ignorar ou não falar sobre os problemas não os fará desaparecer. Na verdade, ao permanecermos em silêncio, perdemos a oportunidade de obter ajuda.

Então, como podemos identificar se alguém, incluindo nós mesmas, podemos estar precisando de apoio? Fique atento a sinais de autoabandono, perda de interesse em atividades que antes eram amadas ou excesso de tempo gasto na frente de telas (que podem ser usadas para anestesiar a dor emocional). O mês de Prevenção do Suicídio visa lançar luz sobre essas questões críticas e mudar as estatísticas. A conscientização é nossa ferramenta mais poderosa para prevenir esta tragédia. Vamos conversar abertamente, apoiar-nos umas as outras e trabalhar para um mundo onde a saúde mental receba a atenção e o cuidado que merece. Juntas podemos fazer a diferença!

PAULA SINEME
Psicanalista de adultos e crianças, com especialização em psicopatologias contemporrâneas em adolescentes.
Membro da BACP – British Association for Counseilling and Psychotherapy.
MA em psicanálise pela Birkbeck University em Londres, onde mora atualmente e é responsável pelo departamento de saúde mental voltado para crianças, professores e pais em uma escola particular em Londres e atende em consultório.

 

1  MGH Center for Women’s Mental Health, “Suicidality in Midlife Women: A Brief Overview” (September 24, 2020) https://womensmentalhealth.org/posts/suicidality-midlife/.

2 Karina Cardoso Meira, Eder Samuel  Oliveira Dantas, and  Jordana Cristina de Jesus, “Suicídio: uma questão de gênero” (Marco 22, 2021) https://demografiaufrn.net/2021/03/22/suicidio-uma-questao-de-genero/.

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