Falar sobre a menopausa ainda é um tabu. Falar sobre a menopausa e seus possíveis efeitos na saúde mental e emocional da mulher é um tabu duplo.

É recente a existência de campos que discutam abertamente menopausa ou saúde mental e encontrar informações sobre os dois juntos pode parecer missão quase impossível. No entanto, eles devem ser estudados em conjunto pois estão completamente interligados.

Naturalmente, cada mulher irá experimentar a menopausa e seus efeitos de maneira singular. Para algumas, é o corpo que dá o primeiro sinal de que algo parece não ir bem. Para outras, são as mudanças emocionais e não físicas que marcam essa fase. Enquanto algumas experimentam ondas de calor, perda de sono ou libido, outras sentem essa mudança por meio do aumento da ansiedade, perda de autoconfiança, medo repentino do fracasso, mudanças repentinas de humor, pensamentos suicidas e assim por diante. Como tudo isso pode ser assustador!

Mas, por que é tão difícil encontrar informações sobre saúde mental e menopausa? Embora possamos passar horas explorando esse tópico, ele se resume em grande parte à vergonha e ao medo. Muitas temem essa transição e sua relação com o envelhecimento – sem perceber que ainda existe um grande espaço de tempo que separa a menopausa e o início da velhice que traz com ela o receio pela finitude da vida.

Como sociedade, temos investido muito mais em explorar e discutir os aspectos físico da menopausa do que seus efeitos mentais e emocionais. Seria injusto dizer que a medicina não tem se ocupado em pensar sobre o corpo da mulher na menopausa. Sabemos que, para quem acesso, a medicina de reposição hormonal pode melhorar a qualidade de vida da mulher nessa fase. Entretanto, parece haver um negligenciamento dos sintomas que não conferem aos sintomas corporais. A própria psicanálise, uma profissão altamente dominada por mulheres, pouco fez para resolver essa questão.

Na menopausa, devido à perda de hormônios, entre outras, algo se descortina. A identidade de uma mulher na perimenopausa e menopausa é abalada – novas limitações são repentinamente impostas a essa mulher. Ela pode se sentir mais cansada ou ter confusão mental, a opção de não ter filhos se torna definitiva (mesmo que ela nunca tenha tido essa vontade), entre outras questões que impactam sua identidade e trazem dúvidas como:  Quem eu sou agora? Sou diferente de antes? O que me define? Muitas vezes, as respostas a essas perguntas são acompanhadas por um sentimento de perda. E, em resposta à perda dessas identidades, uma mulher pode se sentir tomada pela ansiedade e/ou pela depressão.

A questão cultural desempenha um papel crítico em como as mulheres vivenciam a menopausa. Em países ou grupos que valorizam as mulheres mais jovens, a menopausa é vivenciada como uma perda de valor. Em tais sociedades, as mulheres geralmente relatam sintomas piores do que os relatados por mulheres que fazem parte de sociedades nas quais a idade é associada a sabedoria e maturidade.

Embora possa ser avassalador pensar nas mudanças que a menopausa traz. Um primeiro passo crítico para lidar com os problemas à medida que eles aparecem é reconhecê-los. Seja observadora, converse com pessoas que você confia, reflita sobre si mesma, repense sua rotina de trabalho, alimentar, de sono e exercícios, procure suporte médico – pois a sua saúde mental pode ser sim afetada pela menopausa. Não podemos impedir que a menopausa aconteça, mas podemos tornar essa transição mais suave e, nesse percurso, aprender muito sobre nós mesmas.

PAULA SINEME
Psicanalista de adultos e crianças, com especialização em psicopatologias contemporrâneas em adolescentes.
Membro da BACP – British Association for Counseilling and Psychotherapy.
MA em psicanálise pela Birkbeck University em Londres, onde mora atualmente e é responsável pelo departamento de saúde mental voltado para crianças, professores e pais em uma escola particular em Londres e atende em consultório.

Links associados ao texto acima:

https://www.reuters.com/article/us-health-menopause-perceptions-idUSKBN0OL1XH20150605